domingo, 3 de janeiro de 2010

A janela

Gostava de ficar assim, olhando para o seu mundo, reduzido há muito à velha janela da sua sala centenária situada num bairro decrépito e esquecido. Ali, o tempo corria devagarinho, como dantes, quando ele ainda era um jovem a que o tempo não tinha vencido.
Remexeu no bolso, extraindo um fósforo solitário que usou para acender o velho cachimbo, repetindo assim esse gesto familiar, refeito vezes sem conta durante oitenta e sete anos. Inspirou fundo, sentindo o fumo encher-lhe a garganta. E assim ficou durante muito tempo até que alguém o encontrasse, o cachimbo há muito que se extinguira.
Joana Vicente

1 comentário:

  1. Que bonito, Joana! De uma grande e profunda serenidade! Falta dar uns "toques" na pontuação!

    Carlos Lopes

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