terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sentidos

Acordou diferente. A expectativa da mudança, da novidade. Saiu para a rua com os sentidos apurados, viu novas cores, ouviu sons curiosos, sentiu cheiros mais doces, experimentou texturas.

De um momento para o outro ficou escuro, deixou de sentir. "Não quero voltar ao que fui!". Tropeçou e caiu. Sem amparar a queda com as mãos. E assim ficou, estatelado, uma hora, um mês, um ano? Até que decidiu. "Não vou voltar ao que fui!"

Mas e a força? O sorriso? A cor? O som? O cheiro? A textura?

Ergueu o queixo. Desesperado, procurou. Então descobriu um olhar. “Anda, levanta-te.” “Não saio deste fosso tão depressa. É demasiado fundo.” “Não vês que é só um buraco na estrada? Anda. Levanta-te.”

Tocou-lhe na mão. Sentiu-a! Quente, algo áspera, tremia de esforço. Olhou de novo e viu cor naqueles olhos. Dourados, esverdeados. Magnéticos. Já não conseguia não ver.

Inspirou. Cheirou-lhe a lágrimas. Tocou-lhe na cara, no rasto húmido e quente de uma amizade pura.

“Não chores!” “Conseguiste.” “Não me largues!” “Nunca… Não me esqueças.” “Nunca.”

Marta Fatela

13 comentários:

  1. nao sei se isto é um micro-narrativa... eu tentei, mas em vez de encolher o texto, só espirrava frases cada vez maiores...

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  2. Marta quando tropeçares eu ajudo :)

    Está lindo, profundo, poético, tudo o que uma micro narrativa deve ter.

    Cumpris-te na boa!

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  3. Marta tu és sempre tão tu quando escreves. Gostei imenso deste micro narrativa. Quando a lia conseguia ouvir a tua voz a dize-la. Acho que a história está simples, mas repleta de emoçao, gostei muito (:

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  4. Desta vez não digo nada. O poeta diz por mim:

    "No meio do caminho tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    tinha uma pedra
    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    no meio do caminho tinha uma pedra"

    ps: tens de espirrar menos, Marta! ;-)

    Carlos Lopes

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  5. MARTA FATELA! Derreti-me!

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  6. Lindo, lindo, lindo...
    fiquei sem palavras. Adorei :)

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  7. ADORO!!
    ja tinha lido mas...
    adorei outra vez ^^

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  8. está MESMO MUITO BOM!
    adorei marta, tens mesmo jeito para isto!

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  9. Quem diria que eu iria encontrar textos da fatela expostos num blog na net! uau ta mesmo mto bem! e memo assim fatela!

    (nao vou por o meu nome mas tnh a certeza q ela sabe qem eu sou lol)

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  10. ahah martinha penso que ja sabes a minha opinão acerca deste belíssimo texto por isso não precisas de mais palavras minhas para te descrever o q penso sobre esta maravilha :D
    MiJó

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  11. “Não chores!” “Conseguiste.” “Não me largues!” “Nunca… Não me esqueças.” “Nunca.”

    Nem sei bem porquê, no meio de um texto fabuloso como o teu, ma esta passagem... Adoro!

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  12. *mas
    (quando disse nem sei bem porquê, é porque todo texto mas adoro mesmo a última parte)

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